terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Onde começa um círculo

Oi, gente! O post de hoje é um pouco diferente do que estou acostumada a fazer como vocês já devem ter imaginado pelo título. Acho importante que algumas vezes deixemos de lado as tendências de moda pra pensarmos um pouco sobre a moda e a indústria fashion.

Esses dias, passeando pelo Pinterest , encontrei uma imagem com dados que me deixaram um pouco chocada e, claro, fui pesquisar mais a fundo essa informação e outras relacionadas. E o que eu descobri foi o seguinte: há 15 anos atrás, a média do peso das modelos era 8% menor que a das mulheres "comuns" e atualmente, essa diferença passou pra surpreendentes 23%! E isso me leva a pensar: até onde estamos nutrindo um sonho impossível? Até onde a indústria se democratiza e a partir da onde ela escraviza?


O jeito mais fácil de percebermos esses ideiais inatingíveis e essa diferença gritante entre a "mulher da passarela" e a "mulher comum" (aspas porque, no fim, independente de peso, somos todas mulheres) é olhar pras nossas divas de 50, 30, 10 anos atrás. As mulheres consideradas divas,  aquelas que invejava-se o corpo, o status, hoje seriam consideradas "normais" ou até gordinhas. E eu penso sobre a inversão de valores. Era fácil ter o corpo da Betty Page ou da Marylin Monroe. Elas não eram ratas de academia nem tinham suplementos pra bombar o físico mas elas tinham algo que falta a tantas mulheres de hoje em dia: atitude. Elas se sabiam desejadas! Sabiam ser sexy, glamurosas, fatais sem perderam a elegância. O que as transformava em divas não era apenas o corpo mas o conjunto que esse fazia com um poder que vem de dentro.

Aí entra a indústria, a modernização, a era digital. Até onde a liberdade de expressão e de criação nos libertaram e a partir de que ponto ela nos aprisionou a um ideal quase inatingível? Claro que existem as mulheres magérrimas que o são sem esforço (minha mãe tá aí pra provar isso hahahah) mas existe uma grande maioria que sofre pra ser aquilo que foi ditado a ela. Existem aquelas que choram, se cortam e se sentem horríveis e aprisionadas em um corpo que a idéia não deixa ela achar bonito. E fica a grande pergunta: até onde a era do Photoshop é culpada pelos padrões? Será que nós nessa busca pelo perfeito impossível não fazemos os padrões ficarem cada vez mais rígidos e incabíveis? Será que se mais meninas  não começassem a se achar lindas mesmo sem as pernas da Sabrina, esses conceitos e padrões não se tornariam, também, mais flexíveis?


Fico chocada quando vejo que até um brinquedo que deveria ser neutro como a Barbie passou por tantas mudanças ao longo do tempo: mais altura, lábios mais grossos, cintura mais fina, peitos maiores. A ditadura do corpo perfeito chega também às prateleiras e cabeças infantis que teram uma infância vivida em função de ser mais bonita, de ter o cabelo mais comprido, mais liso, de ser mais magra, de ter mais. Cadê a busca saudável pela auto-estima? Cadê amar aquilo que temos e cuidar disso?


Claro que não me posiciono a favor de relaxar e comer 3 hambúrgueres com batata frita por refeição. Não é isso! Sou a favor e venho me esforçando pra ter uma alimentação mais saudável, mais completa, mais regrada e uma vida menos sedentária. Mas não porque isso vai me garantir uma barriga chapada. Porque isso vai me trazer saúde, um corpo funcionando melhor, um humor melhor e, consequentemente, uma vida bem mais feliz. E é aí que entra o ponto: essa busca pelo perfeito faz feliz ou aprisiona? Os padrões de magreza e perfeição impostos trazem sofrimento ou completam?


Durante a pesquisa para esse post, li que os números das roupas também se sujeitaram a essa mudança. Uma peça qye há 10 anos atrás seria 38, hoje é 40, 42. Ou seja, diminuiu-se as medidas da passarela, das revistas e também dos nossos manequins e isso levou a uma "diminuição" do nosso espelho: nunca temos um corpo bom o suficiente pra usar aquilo que gostamos. E isso leva ao pensamento final: com os tamanhos, diminuimos também nosso amor próprio, nossa atitude, nosso sentimento de diva? Quando poderemos e, mais ainda, quando nos permitiremos nos achar bonita? Quando deixaremos que os padrões sejam só uma manipulaçãozinha digital e buscaremos mesmo é ser feliz e saudável? Será que, ao nos aceitarmos, também não causaremos esse efeito de aceitação pelo humano e pelo perfeitamente imperfeito?

Claro que não espero mudar toda a indústria com um post mas acho bacana a discussão e se uma pessoa ler isso e começar a se sentir melhor consigo mesma, bom, aí eu já ganhei a vida! Opinem, comentem, troquem idéias comigo sobre esse tema que pensei e planejei com tanto carinho dividir com vocês...

Beijos,

Ana

4 comentários:

  1. Cai aqui nessa postagem do nada. Acho que alguém retuitou, fui abrindo abas e abas e parei aqui para ler. Não sou de comentar em blogs, mas achei o seu ponto de vista muito interessante.
    Hoje a indústria da moda cria parâmetros cada vez mais inalcançáveis. E, na grande maioria das vezes, tenta enfiar em nossas cabeças que aquilo ali que eles estão lançando é o bonito, correto, e o pior, o perfeito. Criam essa imagem de perfeição sobre paradigmas que são quase impossíveis de serem atendidos pelas mulheres. Fazem você ter vergonha de entrar numa loja e pedir 44, pois já criou-se a concepção de que vestir 44 é algo quase inaceitável. Muitas grifes sequer chegam no 42. Há um tempo eu li sobre essa diminuição de manequins e achei um absurdo a indústria querer enfiar na sua cabeça que você deve ter um corpo 36 ou 38. E o que dizer das modelos plus size? Muitas reclamam justamente da falta de incentivo e divulgação. Todas elas saudáveis e felizes com seu corpo, mas a nossa indústria não permite que eles cheguem a desfilar como uma "angel" da Victoria's Secret. Acho realmente que a busca pelo bonito deve ser interna. Deve começar todos os dias ao se olhar no espelho. É querer melhorar para si, e não para quem dita regras vazias.
    Muito bom o seu texto, serve de incentivo a uma vida mais prazerosa e menos acorrentada.

    beijos

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  2. Adele é a prova de que uma mulher pode ser diva e plus size ao mesmo tempo, assim como Maria Callas no início da carreira.
    Eu gosto de ser magra, acho elegante, delicado, as roupas caem melhor, enfim. Mas sou contra os padrões passarela de secura, com cara de pessoas doentes. Anorexia não é só feio, é triste, e ser magra não significa passar por torturas psicológicas.
    Acho que a mídia devia trabalhar com mais equilibrio neste ponto. Várias revistas de moda publicaram foto da Marcelle Bitar no Fashion Rio, em que ela aparece tão magra, mas tão magra, e as pessoas elogiando seu estilo, sua beleza, como se fosse a melhor referência do que é ser divina.
    Mas o mais importante de tudo, é saber fazer uso daquilo que valoriza seu biótipo, não adianta uma garota G querer usar uma roupa que só fica bem em quem é P, porque é daí que nasce a frustração. Mas ela deve avaliar seus melhores pontos de destaque, e com certeza vai encontrar as roupas que a deixam mais elegante. E sim, se cuidar é essencial, afinal, seu corpo é sua morada.

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  3. Marcella, seja lá por qual meio, fico feliz de você ter caído aqui! Adorei o comentário e que bom que o texto te motivou a deixá-lo! Concordo muito com tudo, inclusive isso das modelos plus size! Você acredita que a maioria das agências só aceitam modelos plus size que usem do 38 ao 42/44? Acima disso, muitas nem aceitam! Agora, me diga: onde uma mulher que veste 38 é plus size? E isso é que acaba nos tornando tão frustrasdas com nosso corpo e com a moda em si, né? Esse eterno desânimo alimentado pela mídia de padrões rígidos e indústrias de portas fechadas pro diferente... Uma pena! Tínhamos tanto a ganhar com a diversidade! Volte sempre, viu, querida? E fico feliz que você gostou do texto! Muito bom ler comentários assim!

    Ju, já tô íntima! hahahah Adele realmente tem sido ótima nesse quesito! Além de uma cantora maravilhosa, ela vem mostrando ao mundo que ser bonita vai além de se encaixar em um estereótipo. Sobre ser magra, não adianta... Acho que 98% das mulheres queriam ter um corpo melhor! Eu me encaixo nessa porcentagem também. Fiz reeducação alimentar, malho, danço, conto calorias mas não pra poder entrar num padrão, entende? Ser magra é legal, ter corpo bacana é legal mas acho que é legal porque a gente se sente bem, se sente saudável! E isso que eu questiono: até onde esses padrões que são impostos pela mídia fazem as mulheres desejarem um corpo de forma saudável? Quantas mulheres e, principalmente, meninas não fazem dietas loucas porque querem usar 36 de qualquer forma? Isso é que eu critico. Essa disseminação da magreza extrema, até doentia! Bem isso que você disse: ser magra, não anoréxica; ser cuidada, não se torturar por um objetivo tão penoso e quase impossível. E concordo em gênero, número e grau sobre saber usar o que favorece! Acho, inclusive, que, se houvesse mais espaço pra diferença, a mulher se sentiria a vontade e confiante pra usar aquilo que ela gosta, que valoriza e não aquilo que a moda dita apenas.... Adoro seus comentários e suas visitas!!!


    Beijos, meninas

    Ana

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  4. A sensualidade da mulher vem do véu, do que é velado, o misterioso, o deixar pensar. O que se valoriza na mulher são traços, detalhes, o diferente. Isso vem sendo destruído com essa comercialização de uma mulher irreal, fotoshopada, padronizada. Todas tem que ser magras, barriga tanquinho, siliconadas, com mega hair... Essa coisa da exibição, do "pavoneio" é masculina, o homem é quem tinha que se exibir para os outros, mostrar sua força, seu poder. Há uma inversão de valores!
    É isso que nós mulheres temos que resgatar, uma sensualidade "singular", onde cada uma tem a sua, como a Adele, que todas citaram, que consegue ser isso sem ser cópia. Seduz não apenas exibindo o corpo, mas com o seu todo singular, seu estilo, voz, furinho no queixo, barriguinha saliente, etc...

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